Como explicar que o
país que em 2009 parecia decolar para a Economist em 2014 tinha
"estragado tudo" segundo a mesma revista? Ou ainda que
Obama tenha chamado Lula de "o cara" em 2009 e hoje o mesmo
Lula esteja lutando para não ser preso? Ou ainda que o mesmo povo
que foi às ruas em 2013 para reclamar do preço do transporte
público e acabou reclamando de quase tudo, incluindo a corrupção e
dos políticos, por fim acabou votando nos mesmos políticos
corruptos de sempre, aqueles que só não estão presos devido à
morosidade e à complacência dos tribunais superiores nos quais tem
o privilégio de serem julgados. Ou que os movimentos sociais apoiem
o governo por temerem perder o espaço que ganharam nele ainda que a
própria existência e a força de grupos como os Sem Terra e os Sem
Teto após quatorze anos de governo do PT deixem claro que essa
proximidade não resultou em ganhos reais para os integrantes destes
movimentos? Ou ainda que grupos como a Bancada Evangélica sejam
eleitos sobre a bandeira da moralidade e da defesa da 'família'
enquanto tem a maior parte de seus integrantes envolvidos em
escândalos de corrupção, incluindo o presidente da Câmara dos
Deputados? Ou que se compare o impeachment constitucional da
presidente com um golpe de Estado? Ou que o povo seja contra a
corrupção até que o guarda de trânsito os pegue dirigindo
alcoolizados?
Neste país paradoxal
a coerência nunca foi importante já que é a conveniência que dita
as posições políticas ou ideológicas. Por isso, ninguém mais se
choca com os apoios que o governo compra no congresso às custas de
ministérios, cargos públicos e mesmo uma certa tolerância para com
a corrupção. Afinal no Brasil ainda vale a máxima "rouba mas
faz". E ainda que a atual crise econômica tenha deixado claro o
quanto a corrupção prejudica o país ainda há uma parcela
significativa da população que acha que o importante seja a esmola
travestida de programa social dada pelo governo. Por isso, ainda que
a economia esteja ruim e o governo não tenha nenhuma proposta
concreta de como retomar o crescimento econômico o impeachment da
Dilma não será uma unanimidade e talvez ainda vejamos o Lula sendo
eleito em 2018.
Talvez tudo mude para
continuar mais ou menos a mesma coisa.
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