Páginas

domingo, 25 de dezembro de 2016

Diário de viagem 1 - Educação

Depois que a viagem passa e se retorna ao lar sobram as lembranças e as histórias. Mas para aqueles que não são meramente medíocres ainda sobra um pouco mais: as reflexões e comparações. Elas vão desde ficar pensando em porque eu amo tanto Paris e que não encontro em São Paulo até nos diferentes desafios comuns ou não tão comuns enfrentados por brasileiros e franceses. Por isso, vou tentar escrever um artigo por dia explorando algum tema interessante e o ilustrando com algumas experiências da viagem. Vou começar pela educação por ser assunto de suma importância e de a reforma do ensino médio que o governo tenta alavancar estar sendo discutida de forma muito passional e nem um pouco racional.
Eu não sei vocês mas se teve uma disciplina na qual eu posso afirmar categoricamente que não aprendi porra nenhuma em oito anos de ensino básico é educação artística. Não porque eu deteste artes mas que devido à falta de estrutura normalmente disponibilizada a maioria das escolas acaba transformando essas aulas em cursos de desenho. E eu decididamente não tenho talento e nem interesse em desenho. Em compensação quando estive no Museu de Orsay eu não estava minimamente preparado para ver alguma diferença entre um quadro simbolista, romântico ou realista. Comprar um livro sobre a pintura do século XIX foi fundamental. Mas mais do que isso. Por que raios tanto adolescente idiota ficou bicudo quando se anunciou que as aulas de educação artística não seriam mais obrigatórias? Por acaso algum deles aprendeu alguma coisa à mais do que eu? Não seria então mais racional COMEÇAR propondo uma educação artística que REALMENTE ensine alguma coisa? O objetivo não pode nem deve ser formar artistas mas certamente seria mais útil uma disciplina que desse noções sobre as diferentes escolas de pintura, escultura ou música do que achar que todo mundo vai levar nove anos para aprender a desenhar.
Em uma educação que o professor acha que ensina quando o aluno sabe o nome complicado que descreve algum processo e o aluno finge que aprendeu quando decora esse nome e tira uma boa nota, a gente nem sempre percebe que a educação deixou à muito de ter qualquer propósito que não seja preparar alunos para passar no vestibular e depois esquecerem tudo o que se tentou ensinar nos doze anos de ensino fundamental e médio. É normal gastar tempo e dinheiro durante doze anos sabendo que muito do que está sendo ensinado não serve para porra nenhuma?! E que professor talentoso na face da Terra vai conseguir fazer um futuro engenheiro civil achar interessante biologia quando a matéria ensinada é basicamente um grande dicionário de nomes complicados e que o aluno só escuta na escola? Tive a feliz oportunidade crianças felizes aprendendo de forma divertida a diferença entre sapos e rãs (e você, sabe quais são as diferenças?) no Palácio das Descobertas (Palais de la Découverte). Mais do que isso, a monitora DEMONSTROU através de uma série de experiências simples como os sapos e rãs acham sua comida. Para um país em que muitos só aprendem ciência em livros e que, por isso, confundem ciência com religião (o que já ouvi de idiotas me perguntando se 'acredito' na evolução...) fico pensando o quanto um ensino mais empírico e prático poderia ajudar as pessoas a entenderem o que REALMENTE é ciência e qual a sua importância.
Mas claro, sem uma sociedade que valorize o ensino e não apenas o diploma toda a discussão sobre melhoria do ensino acaba sendo inútil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário