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domingo, 1 de julho de 2018

Qual a responsabilidade da Europa com relação aos 'refugiados'?

Nunca se discutiu tanto a questão dos refugiados como agora. A União Europeia se divide entre acolher os imigrantes e os temores de uma grande parcela do eleitorado quanto à redução dos salários e o aumento da violência. Se a morte dos imigrantes no mar choca por outro lado pouco se discute qual deve ser o papel dos países desenvolvidos na solução do problema. A solução é trazer todos os povos subdesenvolvidos para a Europa? Será que a Europa tem condições de receber todos os que lá querem morar? E o dever moral da Europa frente aos países criados por sua exploração no passado? Essas são questões extremamente importante mas que tem sido respondidas de forma apenas apaixonada e pouco racional de um e de outro lado e que farei um esforço de fazer uma pequena reflexão.
O problema na verdade já começa no termo 'refugiado'. Segundo a Wikipedia refugiado é "toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar ao mesmo, ou devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outros países." Ou seja, pessoas que correm um perigo mais ou menos iminente de vida se permanecerem em seus países e que buscam abrigo em outro país para salvarem suas vidas. Se o problema é este então por que todas essas pessoas não se estabelecem em países próximos ou mais abertos à imigração nos quais poderiam viver sem risco de vida e nos quais podem chegar sem arriscar suas vidas? Por que os refugiados sírios não buscam o Brasil ou Jordânia mas a Inglaterra ou a Alemanha?! É evidente que os que realmente buscam apenas salvar suas vidas não estão escolhendo em qual país viver mas ficando gratos por qualquer país que lhes garanta abrigo e o direito à uma vida digna. O que estamos vendo é uma imigração por razões econômicas se somando ou se justificando pela questão do refúgio. O refúgio não é um problema já que há vários países dispostos a recebê-los. O problema é a imigração já que esses imigrantes escolhem os países nos quais querem viver e se dirigem em massa aos mesmos ignorando qualquer outro país que aceite lhes dar refúgio. Por isso, o problema na Europa não é de refugiados mas de imigrantes e é assim que irei chamá-los neste texto.
No Brasil milhões de moradores fugindo da seca e da pobreza migraram para os grandes centros em busca de oportunidades no setor da construção civil. Alguns conseguiram, outros não. Os que conseguiram tiveram de se sujeitar à baixos salários já que existe uma grande concorrência pelas vagas. Assim essas mesmas cidades passaram também a terem imensas favelas. Aliás, não apenas em grandes cidades mas até mesmo em cidades médias. Essas pessoas passaram até mesmo a viver diretamente nas ruas enquanto demandam do Estado que lhes consiga moradia digna pela baixíssima renda que conseguem dos programas de auxílio do governo ou de empregos informais. Mesmo a cidade mais rica do país não pôde absorver toda essa imensa parcela de pessoas sem qualificação em sua economia. Aliás, ao contrário, em uma economia como a de São Paulo há cada vez menos espaço para essa mão de obra sem qualificação enquanto vagas que demandam qualificação simplesmente não são preenchidas. A periferia de Paris já está cheia de jovens pobres filhos de imigrantes que sequer se sentem franceses e que em alguns momentos acabam explodindo em vandalismo e violência por se acharem discriminados em relação aos demais franceses. Fora aqueles que sem nenhuma perspectiva acabaram achando interessante se tornarem mártires do islamismo e garantir no céu o que jamais teriam na Terra. O terrorismo pode ser autóctone mas não deixa de ter sido importado. Será que a França que já não conseguiu absorver todos os imigrantes do passado tem condições de receber dignamente mais imigrantes ainda? Será que há empregos suficientes para todos os milhões de pessoas que chegam na Alemanha ou na França sem nenhuma qualificação e sem nem mesmo conseguirem se comunicar, mesmo que superficialmente, nos idiomas destes países? Que vantagem há em simplesmente transferir a pobreza de lugar? A população 'autóctone' pode mesmo ser considerada 'malvada' por temer a ampliação dos problemas que já possuí pela chegada de ainda mais imigrantes?
Mas e quanto à culpa da Europa pela miséria na África e na América Latina. Países como o Brasil simplesmente não existiriam como tal sem o processo de colonização. Boa parte de sua população é branca e só está aqui devido justamente ao processo de colonização ou do processo eugenista de substituição dos escravos negros por trabalhadores brancos. Essa população branca não é vítima do processo colonizador mas simples consequência deste. De toda forma, uma vez feita as independências cada país fez o seu caminho. Podemos ver claramente pelo IDH de cada país como alguns souberam se livrar do passado colonial e se modernizarem enquanto outros aderiram ao populismo e continuaram atrasados. A diferença entre o IDH do Chile (0,878 em 2007) e da Nicarágua (0,699 em 2007) deixa claro que o apenas o processo colonizador não explica a pobreza na América Latina já que dois países colonizados no mesmo processo e com independências semelhantes hoje estão bem diferentes. Na África a colonização foi muito mais recente e muito mais brutal. Mas podemos ver que em alguns casos muito pior do que a colonização foi justamente após a mesma com guerras civis entre diferentes grupos étnicos reunidos em um mesmo país. Essas fronteiras artificiais foram sim criadas pelos colonizadores europeus como a Índia britânica que se dividiu pouco após a independência e embora ainda hoje hajam tensões na fronteira, hoje estes países vivem em paz e fazendo progressos. Vale lembrar que os conflitos étnicos na África não foram criados pelo homem branco. Os escravos que vieram para a América Latina não eram caçados diretamente pelos portugueses e espanhóis mas comprados de outros africanos na costa. Africanos escravizados por outros africanos em conflitos étnicos. Segundo o economista queniano James Shikwati a ajuda à África é mais prejudicial que benéfica. Burocracias enormes são financiadas (com o dinheiro da ajuda), a corrupção e a complacência são promovidas, os africanos aprendem a ser mendigos, e não independentes. Ainda que o destino da África tenha sido muito mal gerido pelos europeus no passado, hoje ele é mal gerido pelos próprios africanos. A diferença entre o IDH de Botswana (0,698 em 2007) e do Níger (0,348 em 2007) deixa claro que mesmo o processo colonizador cruel que lá ocorreu não foi uma condenação igual para cada país. Se formos responsabilizar a Europa pelo destino de suas ex-colônias então talvez devêssemos devolvê-las aos mesmos. Afinal não foram os europeus que embarcaram em políticas populistas na América Latina ou em guerras étnicas na África, não é mesmo? A desculpa do destino das ex-colônias pode ser uma forma conveniente de esquecermos de todos os erros destes países posteriores à sua independência mas nos impede de ver os próprios erros e de corrigi-los.
Não podemos culpar as pessoas por quererem um futuro melhor para si, seus filhos e netos. Mas também não podemos culpar aqueles que temem que a chegada destes novos grupos comprometam sua qualidade de vida e a própria identidade cultural de seus países. O que não pode é se abster de discutir essa questão de forma séria e sem paixões visualizando as terríveis consequências que este processo pode ter se for mal gerido. A imagem da criança curda morta na praia não pode simplesmente significar que não haja nenhuma outra alternativa que não seja deixar todo mundo entrar. 

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