Em meio a tantos escândalos de corrupção e tanta falácia que se vê em
meio aos últimos acontecimentos a gente percebe o quão nossa política se
encontra fragilizada, chegamos a pensar que House of Cards é baseada em
fatos reais (por fatos reais leia-se Brasil), mas acho que a reflexão
não pode ser tão rasa, precisamos entender qual o real problema para
assim conseguirmos entender onde que temos parcela e assim minimizar o
problema, já passou da hora de sair da vertente do “eu não tenho culpa”,
“eu votei em A”, “eu votei em B”, até porque A e B estão envolvidos em
corrupção, o alfabeto inteiro está imerso nessa suruba de letrinhas
corruptas que só faz do brasileiro mais analfabeto, mas quem sabe menos
maniqueísta.
Eu poderia citar Thomas Robinson quando diz que o homem
é o lobo do homem ou ainda Rousseau quando diz que o homem é bom, porém
o meio o corrompe, mas não o farei, prefiro uma frase que ouvi no
noticiário da manhã que dizia que os últimos acontecimentos assustam a
“todos”, desculpem o tom irônico em ao parafrasear colocar o “todos” em
aspas (ops, fiz de novo), mas isso é só mais uma falácia midiática tão
presente em tempos líquidos onde se anseia por se mostrar conhecedor e
detentor da ética e moral, quando na verdade se é só mais um hipócrita,
pois pensem comigo os corruptos citados não se assustam com o fato
relatado, talvez com o medo da descoberta e das suas possíveis sanções,
mas isso é outra história.
Quem nunca ouviu a celebre frase: “
Brasileiro não sabe votar! ” Bem eu entendo por essa frase que, ou o
interlocutor não é brasileiro, ou entende que sabe votar, por questões
lógicas descarto a primeira opção e correndo o grande risco de estar
errado possivelmente a segunda não se faz verdade, pois entendo eu que
saber votar é a antítese de tudo que vemos no cenário político atual,
mas aí pode ser que alguém venha com o possível questionamento: “ Votar
em quem? Se todos são iguais! ” Perceba que novamente estamos
transferindo o problema para “o outro”, nunca somos nós os responsáveis,
mas esquecemos das corrupções do cotidiano (prefiro não citar, correndo
o risco de ser repetitivo e chover no molhado), que o cenário político
brasileiro mudou nos últimos três anos isso é inegável, e eu acredito
piamente que para melhor, sim melhor pois não pense que a corrupção
aumentou ou piorou, ela apenas chegou ao conhecimento público, e em
função disto acredito que seja o momento perfeito para se fazer o
seguinte questionamento: “Quantos séculos serão necessários para se
mudar a cultura?”.
Faço este questionamento que o problema nosso é
perceber que precisamos sair da seara de que política só corre em
Brasília e perceber que política é cotidiano e que se for iniciada hoje
uma mudança cultural (o que acho difícil não por pessimismo e sim por
realismo de entender que as coisas não acontecem assim do nada a menos
que se esteja em um filme do Harry Potter) os filhos dos nossos netos
iram gozar de um melhor cenário econômico.
Não discordo que as
coisas estão mudando, porém o que não pode ocorrer é que o direito penal
seja a solução, pois ele é apenas um recurso de transição (no nosso
caso claro) e depois uma medida protetiva, pois vale sempre lembrar que a
política não muda o caráter de ninguém, ela apenas o revela, sabendo
disso o que se pode fazer é torna-la menos atrativa a antiéticos e
amorais que almejem governar em benefício próprio. Eu entendi que seria
pertinente falar em ética pois temos ainda um sério efeito colateral que
é o de que somos tentados a embasar nossos “pequenos” atos corruptos do
dia-a-dia não como corrupção, mas como forma de ressarcimento por tudo
que nos é roubado por esquemas ilícitos e má administração, mas é
preciso também ser lembrado que nessa lógica do olho por olho e dente
por dente, podemos acabar caolhos ou pior, no mesmo “balaio” que os
corruptos que tanto criticamos.
O problema existe, mas o que vemos é
só a ponta do iceberg, têm se muita insatisfação (sentimento totalmente
aceitável, diga-se de passagem) até porque vale lembrar que a
desigualdade é a mãe de toda forma de violência. Ouço ainda falar que o
problema é falta de educação, a alegação é até de fato verdade em
pontos, não discordo, gosto apenas de reiterar que existe um canyon
entre educação e instrução, pois pode-se ter um indivíduo extremamente
instruído e sem nem um pingo de educação, as “carteiradas” e abusos de
poder por aí fora exemplificam isso.
Com tudo isso eu quero que a
discussão não seja tão superficial, pois de cientistas políticos e
pensadores de porta de boteco o Facebook está cheio.