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segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Bolsonaro e os moinhos de vento

Essa situação em que estamos vivendo me fez lembrar de dois livros. Um que nunca li mas que a história é bem conhecida e a há fartas referências no YouTube. O outro li faz algum tempo mas na época não consegui ir muito além da história em si. Certamente vou ter de lê-lo novamente depois desses dias.
- Dom Quixote de Miguel de Cervantes: a história do velho gagá que saí por aí confundindo moinhos de vento com gigantes é bem conhecida. O que poucos sabem é que em uma época em que se virava churrasco humano por criticar a Igreja essa foi a forma de Cervantes criticar a caça às bruxas e as superstições medievais que ainda sobreviviam em seu tempo. Hoje em dia os moinhos de vento nos chegam por WhatsApp e Facebook. Ameaças de iluminatis e adoradores do demônio que odeiam a família e querem trocar o sexo das crianças na pré-escola e outras besteiras disseminadas pelas redes sociais.
- A Peste de Albert Camus - Quando uma peste chega em uma pequena cidade o medo transforma as pessoas em monstros que são capazes das piores atitudes para, pretensamente, se protegerem. Talvez a pergunta é se a catástrofe é a peste em si ou a sociedade desumana que se cria quando as pessoas agem de forma irracional pelo medo. Quando valores são esquecidos em nome da sobrevivência só resta o caos. Será que o medo do PT justifica esquecermos valores como democracia e tolerância? Será que 'passar pano' para declarações homofóbicas e racistas é justificável por qualquer razão? Não estamos criando uma peste pior do que a da qual estamos tentando nos proteger?

domingo, 16 de setembro de 2018

Debates e a eleição

Toda hora tem gente me pedindo para ver uma determinada entrevista de algum candidato. Como se determinada merda falada pelo mesmo devesse mudar alguma coisa no processo eleitoral. Desculpem mas se seres humanos normais deveriam adaptar sua noção de realidade aos fatos, o brasileiro sempre tenta mudar sua noção de fato para se encaixar na sua 'realidade'. "Não é que a fosfoetanolamina não funcione, é a indústria farmacêutica que está boicotando". "Não é que o Bolsonaro não esteja com maioria absoluta é que o Foro de São Paulo manipula as pesquisas". "Lula é inocente, não há provas no processo".
Para um eleitor que pensa mais com a bunda do que com o cérebro, os candidatos já estão devidamente preparados usando frases de efeito e argumentos previamente discutidos com marqueteiros. As entrevistas do Jair Messias Bolsonaro e do Fernando Haddad foram um show de merda. Mas eles não falaram nada do que já não falassem antes. Nem que para isso tivessem de fugir claramente do que foi perguntado ou inventar fatos e versões que contrariam qualquer raciocínio lógico. Ainda que cada lado veja no outro uma sucessão de erros e besteiras nenhum lado vai mudar de lado porque simplesmente foi mais do mesmo.
Se houve algo curioso com as entrevistas dos candidatos no Jornal Nacional é que todos acham que saíram vencedores e todos acharam que lutaram contra uma mídia mancomunada. Os bolsonaristas dizem que a Rede Globo é comunista, os petistas que defende os interesses dos grandes grupos capitalistas.
O eleitor brasileiro tem de ser estudado porque parece que já nasce sem nenhuma capacidade de pensar racionalmente. Enquanto esse for o eleitor que nós tivermos debates e entrevistas vão ser apenas circo.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Mr. Catra e o Estado Laico

O caso de Mr. Catra é mais um que mostra como nossos legisladores (deputados e senadores) em nome de uma certa visão idealizada do Estado são capazes de se distanciar da vida real. Mr. Catra viva com relação marital com quatro mulheres em um país em que poligamia é crime. Portanto, quão muito, pode ter sido legalmente com apenas uma delas, restando às demais, no máximo, um reconhecimento de união estável, se o conseguiram. Isso significa que embora quatro mulheres tenham vivido com ele, dependido dele e feito filhos com ele, sem um testamento apenas uma delas terá direito à herança.
Deveria ser claro que o papel de um Estado verdadeiramente laico não deveria julgar se algo da esfera privada é recomendado ou aceitável mas regulamentar aquilo que a sociedade já é de fato. Mas em um governo cada vez mais teocrático, com os claros esforços da bancada evangélica, somos obrigados a viver em uma sociedade para a qual gays, prostitutas e relacionamentos poliamorosos, dentre outros, parecem simplesmente não existir.
O primeiro candidato à presidente que REALMENTE se comprometer com o Estado LAICO terá o meu voto!

domingo, 1 de julho de 2018

Qual a responsabilidade da Europa com relação aos 'refugiados'?

Nunca se discutiu tanto a questão dos refugiados como agora. A União Europeia se divide entre acolher os imigrantes e os temores de uma grande parcela do eleitorado quanto à redução dos salários e o aumento da violência. Se a morte dos imigrantes no mar choca por outro lado pouco se discute qual deve ser o papel dos países desenvolvidos na solução do problema. A solução é trazer todos os povos subdesenvolvidos para a Europa? Será que a Europa tem condições de receber todos os que lá querem morar? E o dever moral da Europa frente aos países criados por sua exploração no passado? Essas são questões extremamente importante mas que tem sido respondidas de forma apenas apaixonada e pouco racional de um e de outro lado e que farei um esforço de fazer uma pequena reflexão.
O problema na verdade já começa no termo 'refugiado'. Segundo a Wikipedia refugiado é "toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar ao mesmo, ou devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outros países." Ou seja, pessoas que correm um perigo mais ou menos iminente de vida se permanecerem em seus países e que buscam abrigo em outro país para salvarem suas vidas. Se o problema é este então por que todas essas pessoas não se estabelecem em países próximos ou mais abertos à imigração nos quais poderiam viver sem risco de vida e nos quais podem chegar sem arriscar suas vidas? Por que os refugiados sírios não buscam o Brasil ou Jordânia mas a Inglaterra ou a Alemanha?! É evidente que os que realmente buscam apenas salvar suas vidas não estão escolhendo em qual país viver mas ficando gratos por qualquer país que lhes garanta abrigo e o direito à uma vida digna. O que estamos vendo é uma imigração por razões econômicas se somando ou se justificando pela questão do refúgio. O refúgio não é um problema já que há vários países dispostos a recebê-los. O problema é a imigração já que esses imigrantes escolhem os países nos quais querem viver e se dirigem em massa aos mesmos ignorando qualquer outro país que aceite lhes dar refúgio. Por isso, o problema na Europa não é de refugiados mas de imigrantes e é assim que irei chamá-los neste texto.
No Brasil milhões de moradores fugindo da seca e da pobreza migraram para os grandes centros em busca de oportunidades no setor da construção civil. Alguns conseguiram, outros não. Os que conseguiram tiveram de se sujeitar à baixos salários já que existe uma grande concorrência pelas vagas. Assim essas mesmas cidades passaram também a terem imensas favelas. Aliás, não apenas em grandes cidades mas até mesmo em cidades médias. Essas pessoas passaram até mesmo a viver diretamente nas ruas enquanto demandam do Estado que lhes consiga moradia digna pela baixíssima renda que conseguem dos programas de auxílio do governo ou de empregos informais. Mesmo a cidade mais rica do país não pôde absorver toda essa imensa parcela de pessoas sem qualificação em sua economia. Aliás, ao contrário, em uma economia como a de São Paulo há cada vez menos espaço para essa mão de obra sem qualificação enquanto vagas que demandam qualificação simplesmente não são preenchidas. A periferia de Paris já está cheia de jovens pobres filhos de imigrantes que sequer se sentem franceses e que em alguns momentos acabam explodindo em vandalismo e violência por se acharem discriminados em relação aos demais franceses. Fora aqueles que sem nenhuma perspectiva acabaram achando interessante se tornarem mártires do islamismo e garantir no céu o que jamais teriam na Terra. O terrorismo pode ser autóctone mas não deixa de ter sido importado. Será que a França que já não conseguiu absorver todos os imigrantes do passado tem condições de receber dignamente mais imigrantes ainda? Será que há empregos suficientes para todos os milhões de pessoas que chegam na Alemanha ou na França sem nenhuma qualificação e sem nem mesmo conseguirem se comunicar, mesmo que superficialmente, nos idiomas destes países? Que vantagem há em simplesmente transferir a pobreza de lugar? A população 'autóctone' pode mesmo ser considerada 'malvada' por temer a ampliação dos problemas que já possuí pela chegada de ainda mais imigrantes?
Mas e quanto à culpa da Europa pela miséria na África e na América Latina. Países como o Brasil simplesmente não existiriam como tal sem o processo de colonização. Boa parte de sua população é branca e só está aqui devido justamente ao processo de colonização ou do processo eugenista de substituição dos escravos negros por trabalhadores brancos. Essa população branca não é vítima do processo colonizador mas simples consequência deste. De toda forma, uma vez feita as independências cada país fez o seu caminho. Podemos ver claramente pelo IDH de cada país como alguns souberam se livrar do passado colonial e se modernizarem enquanto outros aderiram ao populismo e continuaram atrasados. A diferença entre o IDH do Chile (0,878 em 2007) e da Nicarágua (0,699 em 2007) deixa claro que o apenas o processo colonizador não explica a pobreza na América Latina já que dois países colonizados no mesmo processo e com independências semelhantes hoje estão bem diferentes. Na África a colonização foi muito mais recente e muito mais brutal. Mas podemos ver que em alguns casos muito pior do que a colonização foi justamente após a mesma com guerras civis entre diferentes grupos étnicos reunidos em um mesmo país. Essas fronteiras artificiais foram sim criadas pelos colonizadores europeus como a Índia britânica que se dividiu pouco após a independência e embora ainda hoje hajam tensões na fronteira, hoje estes países vivem em paz e fazendo progressos. Vale lembrar que os conflitos étnicos na África não foram criados pelo homem branco. Os escravos que vieram para a América Latina não eram caçados diretamente pelos portugueses e espanhóis mas comprados de outros africanos na costa. Africanos escravizados por outros africanos em conflitos étnicos. Segundo o economista queniano James Shikwati a ajuda à África é mais prejudicial que benéfica. Burocracias enormes são financiadas (com o dinheiro da ajuda), a corrupção e a complacência são promovidas, os africanos aprendem a ser mendigos, e não independentes. Ainda que o destino da África tenha sido muito mal gerido pelos europeus no passado, hoje ele é mal gerido pelos próprios africanos. A diferença entre o IDH de Botswana (0,698 em 2007) e do Níger (0,348 em 2007) deixa claro que mesmo o processo colonizador cruel que lá ocorreu não foi uma condenação igual para cada país. Se formos responsabilizar a Europa pelo destino de suas ex-colônias então talvez devêssemos devolvê-las aos mesmos. Afinal não foram os europeus que embarcaram em políticas populistas na América Latina ou em guerras étnicas na África, não é mesmo? A desculpa do destino das ex-colônias pode ser uma forma conveniente de esquecermos de todos os erros destes países posteriores à sua independência mas nos impede de ver os próprios erros e de corrigi-los.
Não podemos culpar as pessoas por quererem um futuro melhor para si, seus filhos e netos. Mas também não podemos culpar aqueles que temem que a chegada destes novos grupos comprometam sua qualidade de vida e a própria identidade cultural de seus países. O que não pode é se abster de discutir essa questão de forma séria e sem paixões visualizando as terríveis consequências que este processo pode ter se for mal gerido. A imagem da criança curda morta na praia não pode simplesmente significar que não haja nenhuma outra alternativa que não seja deixar todo mundo entrar. 

segunda-feira, 26 de março de 2018

Comentando o vídeo do Greg News sobre Marielle Franco

É curioso como se pode mentir falando apenas a verdade. Basta fazer com que coisas que não tem nenhuma relação clara pareçam estar relacionadas. Também requer uma certa cara de pau. Embora o Gregório certamente saiba que as críticas aos direitos humanos não são aos direitos em si mas ao tratamento absolutamente desigual que é dado aos criminosos e às suas vítimas pelas organizações que tradicionalmente são vistas como defensoras da causa. Aliás, haja óleo de peroba para quem associa a violência na Islândia com a passividade da polícia de lá. Alguém realmente pode engolir a ideia de que a polícia islandesa teria os mesmos índices de letalidade se tivesse que lidar com a violência nos morros cariocas? Crer que todo bandido simplesmente se entregaria se a polícia fosse menos letal é um pensamento pueril demais mesmo para quem faz um vídeo de humor em cima da morte alheia.
Talvez o grande paradoxo seja um programa inteiro dedicado à Marielle e apenas a ela querer colocar como se se importasse com todas as demais vítimas da violência carioca. Não conheço a atuação da Marielle mas uma coisa eu posso afirmar: se ela não tivesse sido morta eu jamais saberia quem é ela. Assim como o médico morto na frente do filho no mesmo dia o qual o programa sequer mencionou. Aliás, qualquer das ONGs defensoras dos direitos humanos ofereceu alguma assistência à família da vítima?!


sábado, 17 de março de 2018

Marielle Franco

Eu não comemorei a morte da Marielle. Mas não consegui lamentar. Não conheço nada sobre a vida dela mas me lembrei das críticas e mentiras do PSOL quanto a intervenção no Rio. 
Mais do que isso. Sei que se alguém muito querido da minha família tivesse morrido nas mãos de um pivete que a esquerda brasileira se preocuparia com o pivete do que comigo. Afinal, somos brancos, heterossexuais, de classe média enquanto o pobre pivete é um preto fodido. Afinal todo branco é opressor, rico e filho de escravocratas, certo?


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Banalizando o casamento contra o adultério

A cada dia que passa venho tendo maior interesse pela história, tendo apenas 27 acredito ser um caso mais de inquietação sobre distintos fatos do que saudosismo propriamente dito, me incomoda saber que os fatos veem tendo novas conotações devido as perdas de informações sobre o contexto de inserção dos mesmos, sei que isso é natural, mas compromete a avaliação de situações e deturpa opiniões, acredito que exemplificar seria uma melhor forma de me fazer entender.
Quando Paulo diz em sua epístola aos Coríntios que é melhor o casamento do que viver “abrasado” e entendamos por abrasado imerso no desejo, que inserido no contexto na época em que as mulheres casavam se virgens (em sua grande maioria, claro), coisa que hoje é mais rara que nota de 100 e cabeça de bacalhau, inclusive me dou por satisfeito já ter visto pelo menos uma em três. Os homens eram os mais machistas possíveis, as mulheres inferiorizadas e mediante tudo isso para se fugir do adultério era “preferível” que houvesse casamento à fornicação.
Ocorre pois que os valores mudaram e mesmo assim vejo alguns “mestres religiosos” permanecerem nos valores antigos onde aconselham jovens de 18 e 19 anos com um ano ou até menos tempo de namoro que enveredem nos caminhos do matrimonio afim de fugir da fornicação, para que assim, segundo eles não banalizem o sexo, que é um dom divino.
Essa frase reverbera em minha mente, pois apesar de concordar com a importância do matrimônio, não quero usar a palavra santidade pois penso que a mesma já nasceu banalizada. Será mesmo que é válido banalizar o casamento afim de não banalizar o sexo? É inteligente apressar um processo afim de retardar outro? Isso porque não quero ser leviano e mundano de forma extrema falando que é querer remar contra a maré pensar que o casamento possa ser uma barragem de impulsos do fim da adolescência e início da vida adulta.
A narrativa, o contexto e a semântica são tiradas de foco de modo a “doutrinar” por um caminho ofuscando as placas que indicam que tem um desvio logo ali, e assim a fé e religião se misturam a serviço da banalidade hipócrita de uns e outros que acreditam que casar por sexo é melhor que sexo por desejo, onde parece denotar que é possível pesar os pecados em balanças de feiras e atribuindo assim pesos e valores distintos, como se fosse a nós delegado o direito de precificar e qualificar tais atos, seria o caso de uma nova doutrina: “Os feirantes do desejo” ou algo do gênero (não tenho essa habilidade em nomear novas doutrinas, me afastei até das antigas) mas ao ver que esse julgamento não cabe a mim uma vez que cada um sabe o deva saber como gerir sua vida, logo não compete a mim nada mais que apenas esboçar de forma comedida minha opinião.